Wednesday, November 3, 2010

Amargura

Vivemos tanto na nossa monotonia, que deixamos de sentir a violência das coisas. A felicidade é violenta, por isso nos extasia.
Ás vezes estamos tristes porque erramos ou porque alguém nos causou mal e queremos permanecer tristes porque existe ali uma estranha necessidade de fazer um luto. Esse luto não é mais do que o satisfazer da necessidade que o ser humano tem de sentir algo com intensidade... quando a felicidade não é opção.

Tuesday, January 12, 2010

Permacultura vs Capitalismo? Ou meio termo?

A ecologia já foi uma moda na arquitectura. Hoje em dia é um requisito obrigatório. Mas há que encontrar um meio termo entre os "cabeças de betão" e os hippies.

A revolução industrial veio determinar o ínicio do boom da destruição do sistema natural do nosso planeta, com construções desenfreadas, poluição, destruição de ecossistemas, tudo isto em prol do sistema económico.

O sistema económico é um sistema parasitário que existe dentro do sistema natural do nosso planeta, absorvendo vorazmente os seus recursos. É um sistema expansivo, mas o natural não o é. Se um está dentro do outro, o que acontecerá no futuro?
Será que um dia ambos se encontrarão numa relação simbiótica, em que o sistema natural disponibiliza os seus já reduzidos recursos, para que o económico crie e mantenha soluções para a preservação de ambos?

Penso que não devemos apoiar um tipo de construção que não vise um mínimo de auto-suficiência energética, mas também não é solução ir viver para o meio do monte numa comunidade de permacultura, longe dos olhares alheios, enquanto se critica a voracidade imperial capitalista.

Imagine-se que o que acontece é uma petrificação expansiva da natureza. Onde antes estariam umas dezenas de árvores e plantas, agora ergue-se uma torre de betão.E se tentássemos repetir esse processo, mas no vice-versa? Se fizéssemos expandir a natureza a partir do coração da cidade?
Mesmo nas grandes cidades existem sempre pequenos canteiros com terra e terrenos baldios. E se andássemos todos os dias com algumas sementes no bolso e as lançássemos à terra por onde fôssemos passando?

Construir um edifício é bem mais difícil do que plantar um pinheiro. Exige maquinaria, trabalhadores, arquitectos e uma porrada de dinheiro. Plantar uma árvore custa cêntimos, se comprarmos as sementes num supermercado, por exemplo. A Natureza, depois de plantarmos as sementes, arquitecta tudo sozinha e não nos pede nada em troca. E o melhor de tudo é que não exige burocracias

Fénix

A Natureza possui uma capacidade peculiar de se renovar através da auto-destruição. Como um incêndio que deflagra pela queda de um raio na savana. Também o Homem se renova por dentro. E para trás ficam as cinzas de um passado leve. Que nos acompanham trazidas pelo mesmo vento que nos empurra para o futuro.

Anima

No âmago de ti há um grito que se solta repetidamente.
E repetidamente retorna ao âmago de ti.
Ele quer alarmar os olhos doentes que fazem pensar no que se viu.
Mas não te alarmes muito.
Tu és leve, embora enclausurada num corpo cansado.
Se ao menos os olhos não vissem, a tua leveza não seria afectada pela gravidade de um núcleo de emoções antigas cunhadas em imagens.
É por isso que o teu carcereiro, esse corpo cansado, deve abrir os sentidos para o mundo misterioso, infinitamente maior do que aquele onde vivia e que agora se torna áspero à memória.
Existe um admirável mundo novo em redor.
Vão.

Monday, September 17, 2007

A Hiper-Realidade Baudrillardiana

Jean Baudrillard é um filósofo pós-moderno que escreveu a obra "Simulacros e Simulações" (1981) e parte do conceito de implosão introduzido por McLuhan para denunciar que a fronteira entre mundo real e simulação fora implodida. Já não há mais fundamento para o real. Baudrillard afirma que o tempo actual é o deserto do próprio real, pois o simulacro precede-o. Isto não significa que o real seja impossível, mas sim que cada vez se torna mais artificial.

Baudrillard diz que a pós-modernidade é a neurótica procura pelos referenciais estáveis que davam substância aos signos. Mas isto leva a uma produção excessiva do real, histérica até, que leva à perda do sentido. Perda do sentido não por falta de informação, mas por excesso. Há cada vez mais informação e cada vez menos sentido.

Baudrillard chama a atenção para o apagamento da fronteira entre real e irreal significar que o real é produzido a partir de um modelo simulado (hiper-realidade). Na hiper-realidade, o real é substituído por modelos e o modelo torna-se determinante do real, de forma que a distinção entre quotidiano e hiper-realidade é apagada. As simulações constituem-se em realidade e tornam-se o seu paradigma.

A queda da fronteira entre real e ilusão (ou simulação), verdadeiro e falso, deve-se ao facto de cada vez mais nos dias de hoje a realidade ser produzida a partir de modelos simulados (as grandes invenções dos séculos XIX, XX e XXI como a fotografia, cinema, realidade virtual, realidade aumentada, cibernética, etc, são as grandes impulsionadoras desta problemática da simulação) capazes de produzir imagens sem referente (tais como os efeitos especiais muito usados no cinema).
Vejamos o poder das imagens sobre o homem. Até que ponto somos capazes de distinguir o que é real e o que é simulado? Numa fotografia, por exemplo? E o que é simular? Simular é fingir ter aquilo que não se tem. Dissimular é fingir não ter aquilo que se tem. O primeiro diz respeito a uma ausência e o segundo a uma presença. O real simulado com que somos bombardeados todos os dias com imagens, publicidade, os mass media, servirá para disfarçar alguma ausência? Os media constroem uma media-realidade, mais real do que o real. Poderá a nossa cultura ter perdido valores, referenciais do passado que justifique a implantação de modelos simulados para os substituir?

O exemplo da Guerra do Golfo: esta guerra foi praticamente coberta apenas pelo canal noticioso CNN e transmitida para todo o mundo. Uma guerra feita por americanos, coberta por uma estação noticiosa americana. A imagem da guerra que passava ao mundo era de uma guerra com um número de mortes no inimigo demasiado baixo, embora suficiente para a América vencer. Uma guerra limpa, portanto. Mas a realidade é que estava ali a acontecer uma carnificina, digna de qualquer grande guerra. Mas em torno da mediatização que foi feita da guerra nasceu um modelo simulado que transparecia uma guerra limpa.

Quantos casos já vimos sobre pessoas que vêm filmes e depois imitam as cenas, convencidas que obterão o resultado pretendido?

Lembro-me de um caso nos E.U.A, de um filme que exibia uma personagem que matou um rapaz no monte, retirou-lhe a pele do corpo, derreteu-a para depois a beber e assim conseguia ganhar a capacidade de voar. Umas semanas depois, alguém cometeu um crime seguindo os mesmos passos do filme.

Em relação ao ataque às torres gémeas em Nova Iorque, houve inúmeras comparações entre o ataque e o filme New York Sitiada.

Ou então jogos electrónicos como para a playstation que acabam por se configurar como modelos para acontecimentos reais. Por exemplo, logo após a queda da URSS, foi lançado um jogo de computador no qual o presidente, por razões de saúde, tem de se ausentar por um período e ocorre um golpe. Dois anos depois do lançamento deste jogo electrónico, ocorreu algo parecido. O presidente da Rússia na altura retirou-se para sua casa de campo e houve uma tentativa de golpe.

Outro exemplo interessante é o de um programa, chamado no Brasil de Platão Médico, que exibia o dia-a-dia de um hospital. Nos E.U.A, durante a exibição desta série, os actores foram convidados a dar palestras para os médicos interessados em seguir o seu padrão de comportamento. Desta forma, o médico simulado tornou-se o modelo para os médicos “reais”.

Daqui se tira uma conclusão interessante. Todos já ouvimos falar da frase "a arte imita a vida". Mas, tendo em conta a teoria de Jean Baudrillard da precessão do simulacros, podemos concluir que na pós-modernidade acontece uma inversão do sentido dessa frase. A vida passa a imitar a arte, isto é, a simulação serve de modelo para o real, substituindo-o, constituindo-se ela própria o real.




Bibliografia: BAUDRILLARD, Jean. Simulacro e simulação. Lisboa, Relógio D’água, 1991
PIEPPER PIRES, Frederico. Simulacros e Simulações