Monday, September 17, 2007

A Hiper-Realidade Baudrillardiana

Jean Baudrillard é um filósofo pós-moderno que escreveu a obra "Simulacros e Simulações" (1981) e parte do conceito de implosão introduzido por McLuhan para denunciar que a fronteira entre mundo real e simulação fora implodida. Já não há mais fundamento para o real. Baudrillard afirma que o tempo actual é o deserto do próprio real, pois o simulacro precede-o. Isto não significa que o real seja impossível, mas sim que cada vez se torna mais artificial.

Baudrillard diz que a pós-modernidade é a neurótica procura pelos referenciais estáveis que davam substância aos signos. Mas isto leva a uma produção excessiva do real, histérica até, que leva à perda do sentido. Perda do sentido não por falta de informação, mas por excesso. Há cada vez mais informação e cada vez menos sentido.

Baudrillard chama a atenção para o apagamento da fronteira entre real e irreal significar que o real é produzido a partir de um modelo simulado (hiper-realidade). Na hiper-realidade, o real é substituído por modelos e o modelo torna-se determinante do real, de forma que a distinção entre quotidiano e hiper-realidade é apagada. As simulações constituem-se em realidade e tornam-se o seu paradigma.

A queda da fronteira entre real e ilusão (ou simulação), verdadeiro e falso, deve-se ao facto de cada vez mais nos dias de hoje a realidade ser produzida a partir de modelos simulados (as grandes invenções dos séculos XIX, XX e XXI como a fotografia, cinema, realidade virtual, realidade aumentada, cibernética, etc, são as grandes impulsionadoras desta problemática da simulação) capazes de produzir imagens sem referente (tais como os efeitos especiais muito usados no cinema).
Vejamos o poder das imagens sobre o homem. Até que ponto somos capazes de distinguir o que é real e o que é simulado? Numa fotografia, por exemplo? E o que é simular? Simular é fingir ter aquilo que não se tem. Dissimular é fingir não ter aquilo que se tem. O primeiro diz respeito a uma ausência e o segundo a uma presença. O real simulado com que somos bombardeados todos os dias com imagens, publicidade, os mass media, servirá para disfarçar alguma ausência? Os media constroem uma media-realidade, mais real do que o real. Poderá a nossa cultura ter perdido valores, referenciais do passado que justifique a implantação de modelos simulados para os substituir?

O exemplo da Guerra do Golfo: esta guerra foi praticamente coberta apenas pelo canal noticioso CNN e transmitida para todo o mundo. Uma guerra feita por americanos, coberta por uma estação noticiosa americana. A imagem da guerra que passava ao mundo era de uma guerra com um número de mortes no inimigo demasiado baixo, embora suficiente para a América vencer. Uma guerra limpa, portanto. Mas a realidade é que estava ali a acontecer uma carnificina, digna de qualquer grande guerra. Mas em torno da mediatização que foi feita da guerra nasceu um modelo simulado que transparecia uma guerra limpa.

Quantos casos já vimos sobre pessoas que vêm filmes e depois imitam as cenas, convencidas que obterão o resultado pretendido?

Lembro-me de um caso nos E.U.A, de um filme que exibia uma personagem que matou um rapaz no monte, retirou-lhe a pele do corpo, derreteu-a para depois a beber e assim conseguia ganhar a capacidade de voar. Umas semanas depois, alguém cometeu um crime seguindo os mesmos passos do filme.

Em relação ao ataque às torres gémeas em Nova Iorque, houve inúmeras comparações entre o ataque e o filme New York Sitiada.

Ou então jogos electrónicos como para a playstation que acabam por se configurar como modelos para acontecimentos reais. Por exemplo, logo após a queda da URSS, foi lançado um jogo de computador no qual o presidente, por razões de saúde, tem de se ausentar por um período e ocorre um golpe. Dois anos depois do lançamento deste jogo electrónico, ocorreu algo parecido. O presidente da Rússia na altura retirou-se para sua casa de campo e houve uma tentativa de golpe.

Outro exemplo interessante é o de um programa, chamado no Brasil de Platão Médico, que exibia o dia-a-dia de um hospital. Nos E.U.A, durante a exibição desta série, os actores foram convidados a dar palestras para os médicos interessados em seguir o seu padrão de comportamento. Desta forma, o médico simulado tornou-se o modelo para os médicos “reais”.

Daqui se tira uma conclusão interessante. Todos já ouvimos falar da frase "a arte imita a vida". Mas, tendo em conta a teoria de Jean Baudrillard da precessão do simulacros, podemos concluir que na pós-modernidade acontece uma inversão do sentido dessa frase. A vida passa a imitar a arte, isto é, a simulação serve de modelo para o real, substituindo-o, constituindo-se ela própria o real.




Bibliografia: BAUDRILLARD, Jean. Simulacro e simulação. Lisboa, Relógio D’água, 1991
PIEPPER PIRES, Frederico. Simulacros e Simulações


3 comments:

Diana said...

Bem-vindo ao mundo blogueiro Leonardo! É com mto gosto k sou a tua primeira comentadora.
Em relação ao que escreveste...está muito bom, apesar de ao início me fazer lembrar um pouco as aulas de TIR e Semiótica, o que não é uma lembrança muito agradável, lol. Mas depois quando fazes o paralelo entre a arte e o real torna-se realmente interessante. E até um pouco assustador...
Continua a escrever, eu vou continuar a visitar as tuas metamorfoses da palavra!

catwalk said...

Só pra dizer que achei a tua metamorfose (da palavra) muito interessante e que o chapéu fica-te bem*** um gd bem-haja :P

Manuela Pinheiro said...

Olá Querido e Estimado Leonardo.Como " o prometido é devido", também pode muito bem ser uma metáfora, e as voltas que o sentido lhe dá... aqui estou, para te dizer que simplesmente me deslumbraste com o que acabei de ler e sentir.Adorei* Dou-te os meus sinceros e orgulhosos parabéns, pela forma tão concreta e sublime como conseguist neste contexto metafórico delinear desenhando numa forma perfeitíssima "as teias da civilização", seja ela antiga moderna ou contemporânea. Mas o que é a civilização?? De que componentes está formada, alimentada ou fabricada essa assustadora e mostruosa "teia",tão vísível.... mas até agora ainda nunca acessível desarmadamente...a todos sem excepção, para que a original, pura e verdadeira civilização fosse sentida e vivida com todas as suas verdadeiras cores. Continua meu querido porque o teu futuro é promissor. Simplesmente Adorei! Que Deus Abençoe sempre e para sempre este verdadeiro MESTRE... deste novo e interessante blog,na internet, e no todo da esfera terrestre. Um Forte Abraço. MP*